Praias poluídas: A ameaça a biodiversidade e a fauna marinha

Visitar as praias no verão é uma atividade que muitas pessoas realizam nas férias, porém com elas, uma imensidão de lixos se acumula nas faixas de areia. Essa realidade se repete ano após ano e coloca em risco a biodiversidade desses espaços. Além disso, a alimentação induzida por seres humanos a animais marinhos, acarretam na intoxicação alimentar a que eles são suscetíveis.

A R3 Animal, que executa o Trecho 3 do Projeto de Monitoramento de Praias (PMP-BS), recebe inúmeros animais, principalmente aves, com intoxicação por lixo. Em dezembro de 2023, uma pardela-preta (Procellaria aequinoctialis), foi resgatada pela Técnica de Monitoramento, Josiele Felli, da equipe PMP-BS/R3 Animal e encaminhada ao Centro de Pesquisa e Reabilitação de Animais Marinhos/R3 Animal (CePRAM). A ave chegou à sede da R3 desnutrida e com presença de ectoparasitas, recebeu atendimento e foi para a reabilitação. Após avaliação dos médicos veterinários, ela foi submetida a uma endoscopia e estava com um grande pedaço de plástico no estômago. Devido às complicações causadas pelo lixo, a ave veio a óbito.

Foto: Marzia Antonelli

Marzia Antonelli, médica veterinária responsável pela endoscopia, ressalta que uma ave marinha que se alimenta de lixo, pode ter uma falsa sensação de saciedade. “Com o estômago cheio de resíduos (lixos), elas não buscam alimentos que deveriam ingerir naturalmente, além disso, o lixo ingerido pelos animais impede a absorção de nutrientes e pode lesionar as mucosas do esôfago, estômago e intestino, o que causa úlceras e hemorragias”, explica.

Ainda conforme Antonelli, a ingestão de resíduos pelos animais pode acarretar no acúmulo de lixo e fezes (fecaloma), o que obstrui o trato gastrointestinal. “Esse acúmulo de lixo no organismo do animal pode evoluir para quadros de desidratação e sepse (infecção generalizada) pelo acúmulo de bactérias. Os sinais observados em aves que ingeriram lixo, por exemplo, são inespecíficos, mas elas podem apresentar sintomas digestivos como anorexia, regurgitação e diarreia, que podem cursar com o óbito do animal”, destaca.

Foto: Marzia Antonelli

Essa realidade é cada vez mais comum e torna a ameaça à fauna marinha iminente. A confusão entre alimento e lixo pelos animais, por exemplo, é uma das maiores preocupações. A Assistente Técnica da R3 Animal, Vanessa Pedroso, explica que muitos plásticos, restos de redes, linhas de pesca e outros lixos acabam se misturando a algas e alimentos naturais, dessa forma quando o animal vai se alimentar, ele por consequência ingere esses lixos.Muitos animais marinhos ingerem resíduos plásticos que não conseguem distingui-lo do alimento de verdade. A ingestão desses detritos está relacionada aos hábitos alimentares de cada espécie. Animais marinhos estão acostumados a tudo que está na água e isso leva eles a confundirem o lixo nos oceanos com suas presas. Os microplásticos são ingeridos mais facilmente pelos animais quando misturados a outro alimento, como as algas por exemplo”, destaca a bióloga.

Foto: Josiele Felli

Vanessa explica que espécies como albatrozes, do gênero Thalassarche e os petréis (Macronectes giganteus), quando saem em busca de alimentos, acabam ingerindo tampinhas plásticas, cotonetes, canudos, e voltam ao ninho para alimentar seus filhotes através do método de regurgitação, “é comum seus filhotes serem encontrados mortos com o estômago contendo apenas plástico e nenhum alimento”, afirma com preocupação a bióloga.

Mas de onde vem os lixos?

Um estudo realizado pelo Blue Keepers, ligada ao Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), revelou que o Brasil é responsável por 3,44 milhões de toneladas de plástico que chegam ao oceano todos os anos. Mas a pergunta que fica  é: de onde vem esses lixos e como eles vão parar no oceano?

A maioria dos lixos encontrados no oceano vem do continente. Leonardo Martí, Técnico de Monitoramento/R3 Animal, explica que a equipe de Monitoramento de Praias se depara, frequentemente, com quantidades significativas de resíduos plásticos e outros na beira da praia. “Alguns resíduos são gerados por frequentadores das praias e tem aqueles que chegam oriundos do mar. Esse lixo é descartado irregularmente em zonas de rios que acabam por desaguar no oceano”, afirma o biólogo.

Foto: Leonardo Martí

Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), estimam que 19 a 23 milhões de toneladas de lixo acabam em lagos, rios e mares. Conforme PNUMA, o plástico entope aterros sanitários, vaza para o oceano e é transformado em fumaça tóxica. Além da poluição do ar, o Instituto de Oceanografia da USP, após estudo, apontou que um terço do plástico consumido no Brasil tem grande chance de parar no oceano, isso corresponde a quase 3,5 milhões de toneladas de materiais por ano. Ainda de acordo com a pesquisa, 67% desses plásticos chegam ao mar pelos rios.

Segundo Leonardo, os resíduos mais encontrados nas praias, nem sempre são visíveis pela população. “Em geral são microplásticos e pequenos resíduos, como bitucas de cigarro, por exemplo. Que neste caso se tornam um sério problema, visto a grande quantidade, e por serem produzidos através de partículas plásticas (materiais sintéticos) que acabam por demorar décadas, ou até mais que isso para se decomporem. Isso causa sérios danos e poluição para os parâmetros ambientais na areia e águas da nossa região”, destaca o biólogo.

Foto: Leonardo Martí

A produção incessante de plástico e o descarte incorreto desses materiais são alguns dos fatores que geram o acúmulo de lixos no oceano. Conforme dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, em 2022 o Brasil produziu em média 13,7 milhões de toneladas de resíduos plásticos. O estudo foi elaborado pelo projeto Lixo Fora D’Água, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).

Os dados da pesquisa afirmaram que os resíduos plásticos mais encontrados nos corpos hídricos do planeta correspondem a 48,5% dos materiais que vazam para os mares. Ainda segundo a Abrelpe, cerca de 80% do total de resíduos encontrados nos mares, são providos de atividades humanas.

Educação Ambiental e a proteção dos mares

Na contramão da poluição, a Educação Ambiental vem, cada vez mais, ocupando espaço nos debates sobre preservação da fauna marinha. O R3Educa, projeto que faz parte da R3 Animal, desenvolve atividades de educação ambiental com o objetivo de alertar as pessoas sobre os perigos da produção de lixo, descartes incorretos e a poluição dos mares.

Leticia Zampieri, bióloga e vice-presidente da R3 Animal, destaca que a reciclagem e a diminuição  do consumo de plásticos e materiais não-biodegradáveis é uma das formas da população contribuir com a preservação da fauna marinha. “Cada pequena ação conta. Responsabilizar-se pelo resíduo que você mesmo produziu é o básico, mas sempre é possível fazer mais. Por que não recolher alguns resíduos que já estavam por lá? É extremamente importante ficarmos atentos ao que vem antes do resíduo chegar até a praia”, ressalta.

Foto: Ana Laura Baldo

Ainda conforme a bióloga, os materiais descartáveis, como o plástico, são um grande problema para o meio ambiente. “Podemos reduzir o consumo desse tipo de material e optar por produtos com menos embalagens ou com embalagens sustentáveis, como as retornáveis. Estando mais conscientes do problema, temos mais ferramentas para mudar o que está ao nosso alcance e exigir das empresas e dos nossos governantes ações mais amplas, que podem resultar em um impacto positivo ainda maior”, destaca a vice-presidente da R3 Animal.

Erika Cardoso, especialista em Educação Ambiental, do time R3Educa, explica que projetos de educação ambiental nas escolas são extremamente importantes para a conscientização da preservação dos mares e do meio ambiente. “A educação ambiental é uma ferramenta fundamental para disseminar a informação e promover a conexão do indivíduo com o ambiente, de forma com que possam compreender como o oceano influencia na sua vida e como sua vida pode influenciar no oceano”, explica. 

Divulgação/R3 Animal

Erika destaca o projeto Cultura Oceânica, desenvolvido pela R3 Animal desde 2021 na rede pública de Florianópolis. “Nosso propósito é falar sobre a importância do oceano e a partir da problemática dos resíduos sólidos compreender como nosso modo de vida influencia o oceano e como ele pode influenciar a nossa vida. O projeto é destinado principalmente para a rede pública de ensino, com intuito de fomentar a educação marinha no ambiente escolar”.

Ainda segundo a especialista, é por meio de aulas, jogos, exposição, cinema, pinturas e outras atividades, como a  “Campanha de arrecadação de esponjas sintéticas”, realizada em 2023, que é possível estimular a prática de atitudes sustentáveis. “Todos participam, alunos, comunidade, através da separação, coleta e destinação de materiais considerados de difícil reciclagem. O projeto tem a duração de 6 meses em média, embora o conceito da “Cultura Oceânica” seja bem amplo, também é possível realizar palestras, exposições e rodas de conversa com objetivo de disseminar a importância do oceano”, destaca Érika.

Foto: Ana Laura Baldo

A R3 Animal é uma organização não governamental fundada em 2 de abril do ano 2000, no município de Florianópolis. Em dezembro de 2013, a associação recebeu a certificação de Organização Social de Interesse Público/OSCIP. Seu trabalho é em prol da conservação da biodiversidade através do resgate, reabilitação, reintrodução de animais marinhos à natureza, pesquisa e sensibilização da sociedade.

A realização do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) é uma exigência do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama, para as atividades da Petrobras de produção e escoamento de petróleo e gás natural na Bacia de Santos.

Uma linda parceria nasceu!

Os livros são capazes de nos fazer viajar e conhecer outros mundos! Não é mesmo? 

E que tal conhecer o mundo de Pituca e Damião e ainda ajudar a R3 Animal em seus projetos de educação ambiental? 

Pois é, educação ambiental e livros tem tudo a ver. 

Com a ajuda deles podemos trabalhar a empatia e o cuidado com o planeta, entre tantos outros valores.

A partir desta ideia surgiu a união entre a R3 Animal e o autor Filipe Gattino. Na compra do livro “O bem-te-vi e o morcego”, o 1º volume da Coleção Matas, 20% do valor será revertido para nossos projetos de educação ambiental, que buscam sensibilizar os pequenos e também os grandes para o cuidado com o planeta. 

Vem você também fazer parte dessa rede! Acesse o site Home – Filipe Gattino , adquira seu exemplar e se encante com essa linda história, que assim como as ações da R3, toca gente grande e gente pequena também.

Você conhece a fauna marinha existente em Florianópolis?

A R3 Animal apresenta a Cartilha Fauna Marinha, desenvolvida pela equipe do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) junto à Univali/Penha e adaptada por nós para a nossa região.

São 16 páginas sobre as espécies de animais marinhos que ocorrem no nosso litoral, as ameaças à biota marinha, e informações sobre a atuação da R3 Animal no resgate, manejo e reabilitação dos animais, além das atividades desenvolvidas no Centro de Pesquisa, Reabilitação e Despetrolização de Animais Marinhos (PMP-BS).

Um ótimo material para ser trabalhado como educação ambiental para as escolas e universidades. Fiquem à vontade para salvar ou imprimir.